É provável que aqui refira várias vezes o quão superior a Guarda me parece como cidade relativamente à outra mais povoada, mais endinheirada e com mais brilho de luzes mas muito mais caciquista e parada no tempo das mentalidades que é Viseu, onde esta linha estacionou durante alguns anos. Aqui direi, provavelmente, várias vezes que nessa paragem de anos o sentimento nunca foi o da vontade de ficar e criar raízes. Na Guarda, respira-se outro ar. A cidade está viva e mexe. Chama por nós e acolhe-nos. Convida-nos a ficar. Pelo menos agora, é o que sinto. E nem no período da novidade (em que outras novidades e grandes e positivas mudanças poderiam ter ajudado a criar este sentimento) Viseu, apesar de algumas qualidades objectivas, foi capaz de me dizer "fica, és bem-vindo". Adiante. A isto voltarei.
Mas hoje não quero deixar de lamentar que uma cidade com uma vida cultural tão interessante tenha uma biblioteca municipal (BMEL) com um horário tão reduzido. Encerra às Segundas, Sextas e Sábados de manhã e, mesmo nos outros dias, só abre a partir das 10h. Estamos numa capital de distrito.
Falta de pessoal, argumenta o responsável, justificando com as muitas tarefas que desempenham os poucos funcionários e que obrigam aos períodos de encerramento. Não tenho razões para duvidar. Mas Viseu, com uma vida cultural pouco mais que miserável, bate a Guarda neste aspecto, com a sua biblioteca de horário alargado, funcionários suficientes e muito espaço. Embora mais feiota e sem o enquadramento paisagístico da BMEL, funciona. E a BMEL tem estas lacunas graves (e já não me refiro o ridículo espaço para estacionamento, poderá sempre argumentar-se que o mais saudável é ir a pé ou nos TUG...).
É verdade que Viseu terá, certamente, um orçamento maior e que, não investindo noutras áreas da cultura, tem de sobra para a biblioteca. É verdade que a Lei das Finanças Locais e a estocada que foi este desgraçado OE para 2011 que o PS, o PSD e o lamentável Cavaco nos impingiram reduziram em muito a margem de manobra das câmaras municipais, e a da Guarda não é excepção.
Mas uma melhor gestão dos recursos e do orçamento disponível é possível, e a BMEL, com mais dois ou três trabalhadores, seria um espaço de estudo e de estímulo ao pensamento, um espaço belo, como já é, mas também funcional. Até lá, é uma biblioteca a meio gás.