quarta-feira, 29 de abril de 2009

Oh não, não!

A criatura volta a atacar! Agora, ameaça "embelezar" a ecopista que substituiu a Linha do Dão (está aqui)! Não, por favor!
É que, se há coisa que o encerramento desta via férrea e a construção da ecopista não destruiram foi, precisamente, a beleza da paisagem beirã característica dos arredores da cidade, os olivais, os prados com seus rebanhos, os soutos e carvalhais alternando com vinhas e hortas, as leiras separadas por murinhos de granito recobertos de musgo por trás dos quais se elevam, gaiteiras, enormes e suculentas couves. E a ecopista, embora feita no sítio errado - onde deveriam, e devem, passar transportes públicos ferroviários -, veio trazer alguma dignidade ao caminho de terra batida mal amanhado em que aquilo se tinha convertido, e veio permitir a muitos viseenses de gema ou adopção (entre os quais me incluo), fazer umas belas e limpas caminhadas e, tranquilamente, olhar para aquilo que a região ainda vai conservando de belo, de cativante, a precisar de apoio e de medidas sérias: a convivência do homem, através do trabalho, através da vida, com o meio que o envolve. Pelo menos nos meios rurais.
Agora, o homem quer "embelezar" tudo isto! Que vai fazer? Estatuetas? Rotundas em cada (ex)passagem de nível? Relvados? Placas com o seu nome após e antes cada (ex)passagem de nível?

Levem-no, levem-no!

terça-feira, 28 de abril de 2009

Chuva e granito


Chuva e granito fazem parte do que nesta cidade me faz sentir bem. É bela, a chuva, é belo o granito, é belo o musgo, e parecem estar ali, livres, desde sempre e para sempre, à espera que os homens se libertem por sua vez e comunguem desse seu estado.

A foto não é na cidade, mas numa das serranias que a envolvem e que a moldam profundamente. É destas serranias que brota o essencial do que compõe a cidade. Por isso, a foto não é na cidade, mas também é da cidade.

domingo, 26 de abril de 2009

Cravos perenes

Ontem, ao (re)ver imagens do dia 25 de Aril de 1974 em Lisboa, do povo que encheu as ruas - o Largo do Carmo mas não só - o contraste com o que havia visto em Viseu passados 35 anos deixou-me melancólico. Não que as comemorações em Viseu tenham sido mornas ou indignas. Não que o povo que esteve não tenha participado com um sentimento de felicidade e de alívio pelo que se estava a comemorar. Se não fosse por mais, bastaria ter visto as crianças e jovens que, da parte da manhã, encheram o Rossio de cor, de felicidade, envolvendo nos seus gestos espontâneos e despreocupados o dia frio mas feliz, num espaço cada vez menos frequentado por ex-pides remoendo as "mágoas" que este preciso dia simboliza.
Mas a travagem e retrocesso que a gentalha que tem povoado os governos fez sofrer aos valores de Abril manifesta-se de modo mais óbvio lá onde o distanciamento do epicentro, o isolamento e um exército bem oleado de caciques impediram que os ares de Abril tivessem tempo de se fazer sentir em mais do que uma leve brisa. Estancaram-nos até que a contra-revolução estivesse em marcha com toda a força, e depois a coisa foi mais fácil. Por isso, por estas bandas, a imensa maioria das pessoas que fazem do trabalho o seu modo de vida ainda não percebeu que o são (pessoas). Que têm força. Que não têm que agradecer a ninguém favores que o não são, favores que são direitos. Que, se quiserem, podem ser livres. E que tudo isso se deve ao 25 de Abril, ao que milhares de homens e mulheres na clandestinidade lhes trouxeram depois de décadas de árduas e perigosas lutas.
Assim, no 25 de Abril de Viseu a multidão nada tem que ver, mesmo salvaguardadas as devidas proprções, com o que se passa noutras paragens. Pelo simples facto de que, em larga medida, nada parece ter acontecido.
Mas aconteceu. E, como dizia acima, a contra-revolução facilitou a vida aos caciques. Que baixaram as guardas. E que, ao fazê-lo, facilitaram por sua vez a vida a quem resiste. E quem resiste penetrou e criou irreversíveis focos de novas resistências, cravos de Abril perenes que, um dia destes, desatarão por aí a desabrochar e a libertar vidas e a dar-lhes verdade e dignidade.

Abril de Novo!


E cá está a primeira contribuição (desde o último post)!

25 de Abril sempre!

Quis o acaso que o autor deste(s) post(s) andasse em paridade etária com a nossa bela revolução de Abril.
Espera o autor destas linhas que os ideais de Abril lhe sobrevivam - embora espere ter uma duração de vida normal - e se fortaleçam. Este blog e o seu autor tudo farão para dar o seu contributo, juntamente com os de muitos milhares de amigos, companheiros e camaradas, para as lutas que permanentemente teremos que travar na defesa e afirmação desses ideias.

Este ano há importantes batalhas nessa luta permanente!

Cá estaremos.

Para que o fascismo um dia não seja mais que uma triste estória.